A tecnologia 4K não irá emplacar se não houver uma
forma de levá-la para dentro das casas. Ou, pior ainda, se as pessoas chegarem
à conclusão de que ela não é tão superior assim à atual Full-HD. 4K significa
quatro vezes mais pixels, e a informação contida aí requer muita largura de
banda (bandwidth). No entanto, a infraestrutura para distribuição de
sinais de vídeo – links de satélite, canais de TV aberta, TV a cabo e discos
Blu-ray – não irá crescer tão cedo a ponto de suportar essa carga. Hoje, a
maior parte das conexões de internet mal consegue dar conta do streaming em HD.
Tudo isso significa que os sonhos da indústria, de
faturar bilhões de dólares com a venda de novos TVs, reside num recurso já
antigo: a compressão do sinal de vídeo. Esse processo permite transformar
lindas imagens gravadas com câmeras de vídeo em arquivos digitais menores, que
podem ser transmitidos a taxas (bit-rates) inferiores, adequadas às
redes domésticas.
Quando os engenheiros questionam se a tecnologia 4K
será capaz de chegar a nossas salas, estão se referindo justamente ao conceito
de bit-rate. Os pixels estarão lá, mas será que serão suficientes para
acomodar a quantidade de dados necessária? Será que vai valer a pena? O
bit-rate pode ser comprimido de várias maneiras. As cores, por exemplo, podem
ser sampleadas numa frequência menor que a dos demais elementos que formam a
imagem. Pixels que não mudam, ou que mudam pouco entre um quadro e outro, podem
ser transmitidos numa frequência mais baixa. Informações sutis, que a maioria
das pessoas não consegue enxergar, podem então ser eliminadas. E até mesmo uma
parte da resolução pode ser sacrificada.
Peter Putnam, expecialista em compressão de vídeo,
explica que o sinal de uma câmera HD tem bit-rate de 1,5 gigabits por segundo
(Gbps). Mas os canais de televisão estão limitados a 19 Megabits por segundo
(Mbps). “No entanto”, diz ele, “assistimos às transmissões e tudo parece
ótimo.”
Já Peter Symes, diretor da SMPTE (Society of
Motion Picture and Television Engineers), órgão que rege o setor, lembra
que são raras as redes, nos EUA, que obrigam suas afiliadas a usar todos
aqueles 19Mbps. “Permitem talvez 12Mbps, com qualidade inferior”, diz ele.
“Isso equivale a uma resolução de 1.200 pixels, e não 1.920.”
Ou seja, a “alta definição” que temos hoje nas
transmissões de TV – pelo menos em alguns canais – não entrega todo o potencial
do sistema. Comprimir sinais 4K nessa mesma infraestrutura de redes só vai
piorar o problema. Os TVs de hoje, assim como outros aparelhos, possuem
software de descompressão embutido num chip. Mas chips para descompressão de 4K
ainda não existem. Portanto, os TVs 4K que estão sendo lançados são apenas uma
solução improvisada.
A Sony, por exemplo, que já lançou TVs e também um
player 4K, adquire o software de descompressão da empresa eyeIO. Na verdade, o
player nem usa esse software, pois não faz streaming, e sim download dos
conteúdos.
Claro que, futuramente, tanto software quanto
hardware para codificar e decodificar sinais 4K estarão no mercado. Está em
vias de ser aprovado o padrão HEVC (High Efficiency Video Codec), capaz
de comprimir esses sinais adequando-os às atuais estruturas de rede. O que se
espera é que esses sejam aperfeiçoados com o tempo, para que tanto as
transmissões quanto o streaming em 4K sejam de boa qualidade. Foi o que
aconteceu com o HD.
[Orlandobarrozo]
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