Marcos Valle: reforço na carreira internacional |
O que é a vida... No dia 14 de setembro, o cantor de “Com mais de 30”
(”Não confio em ninguém com mais de 30 anos/ Não confio em ninguém com
mais de 30 cruzeiros”) e “Quarentão simpático (Renatão)” (“Tão
simpático/ Me lembra muito bem meu pai”) chega aos 70 anos de idade. E
razões (além do fato de continuar com aquela mesma pinta de surfista de
sempre) não faltam a Marcos Valle para comemorar. Referência entre os
selos que se dedicam a relançamentos de pérolas obscurecidas da música
popular, o americano Light in The Attic põe no mercado edições em CD e
vinil, remasterizadas e com fartos textos biográficos assinados pelo
pesquisador Allen Thayer, de quatro de seus álbuns mais ecléticos:
“Marcos Valle” (1970) e “Garra” (1971), que saíram na terça-feira, mais
“Vento Sul” (1972) e “Previsão do tempo” (1973), que chegam às lojas no
dia 19 de fevereiro. São o ponto de partida para um ano que terá
premiação na Inglaterra e shows pelo mundo.
— Apesar de
diferentes, são discos que têm a ver. Neles, eu pensei em termos de
balanço, de ritmos diferentes — contou Marcos, a poucas horas de
embarcar para Londres, onde se apresenta (e recebe homenagens) no
sábado, na festa de entrega do Gilles Peterson Worldwide Awards, prêmio
criado pelo DJ francês, mestre da world music dançante e responsável por
ter inserido a obra setentista de Marcos nas pistas da cena do acid
jazz, nos anos 1990.
Fusões fascinantes
Aos quase 70, o carioca também comemora este ano 50 anos de uma carreira que passou pela bossa nova (com pelo menos um standard do movimento, “Samba de verão”, de sucesso mundial) e pelas fusões de samba, baião, black music, pop à la
Burt Bacharach e harmonias Clube da Esquina presentes em seus discos do
começo dos anos 1970 que acabaram chamando a atenção do Light in The
Attic. Marcos é o primeiro artista brasileiro a fazer parte do catálogo
desse selo fundado em 2002 em Seattle, que reeditou discos de
sensacionais malditos como o francês Serge Gainsbourg e o americano Lee
Hazlewood (autor de “These boots are made for walking”, hit de
Nancy Sinatra), além de ter apostado em Rodriguez, trovador psicodélico
do fim dos anos 1960 e autor de dois discos que passaram em brancas
nuvens nos EUA mas que viraram culto na África do Sul, enquanto ele
ganhava a vida como pedreiro (a história virou até um documentário,
“Searching for Sugar Man”).
— Pessoalmente, adoro os discos de
Marcos Valle nos anos 1960, mas estes que lançamos são aqueles em que o
jazz, o rock e o funk convergem. Sempre achei uma vergonha que esses
discos não fossem mais conhecidos fora do Brasil — diz, por telefone, o
fundador do Light in The Attic e coprodutor dos relançamentos, Matt
Sullivan, que se preocupou um contextualizar as músicas dos discos
(compostas e gravadas durante o auge da ditadura) para o público
internacional e, assim, encomendou alentadas liner notes a Allen Thayer (que assina os textos de “Nobody can live forever”, coletânea de Tim Maia editada pelo selo Luaka Bop).
— Depois de passar meses ouvindo esses discos, o que me deixou mais interessado foi a parceria de Marcos com seu irmão, (o letrista)
Paulo Sergio — conta, por e-mail, Allen, que fez extensas entrevistas
por telefone com o cantor. — As canções seriam ótimas como
instrumentais, mas sem aquela prosa política em apoio a movimentos anti-establishment, esses discos do Marcos Valle não seriam tão memoráveis.
Reunidos
em 2011, no Brasil, na caixa de 11 CDs “Valle tudo”, os discos mostram
um artista ousando com os músicos do Som Imaginário de Milton Nascimento
(“Marcos Valle”, das músicas “Quarentão simpático” e “Ele e ela”, que
foi sampleada pelo rapper Jay -Z), aprimorando seu balanço (“Garra”, dos
sucessos “Com mais de 30”, “Que bandeira” e “Black is beautiful”),
vivendo o sonho hippie (“Vento Sul”) e tirando grande proveito da
parceria com o grupo Azymuth (“Previsão do tempo”).
A intenção de
Marcos em 2013 é aproveitar os festivais de verão do Hemisfério Norte
para fazer shows por Europa, Japão e Estados Unidos. Mas ele não se
esquece do Brasil: dia 24, se apresenta na Miranda ao lado de um misto
de ídolo e companheiro de geração: Carlos Lyra, com quem só recentemente
iniciou parceria de composição. No dia 31, ele volta com Diogo
Nogueira, filho de seu velho amigo João, para cair nos sambas de todos
os verões.
[Globo]
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