Apesar do ditado famoso que diz que dinheiro não compra felicidade,
na prática, não é bem isso o que se observa, de acordo com novo estudo
divulgado pelos economistas Betsey Stevenson e Justin Wolfers, da
Universidade de Michigan. Ao relacionar o nível de renda e a
autodeclarada felicidade das pessoas em diversos países do mundo, os
autores do estudo descobriram que quanto mais dinheiro as pessoas têm,
mais felizes elas tendem a ser.
Segundo os economistas, não há
evidência de que haja um “ponto de satisfação”, um nível teórico de
contentamento em que ter mais dinheiro não se converte em mais
felicidade. Duas tabelas do relatório evidenciam as constatações. A
primeira confronta a renda anual dos lares, em diferentes países, com o
nível de felicidade das pessoas, mostrando uma correlação entre renda
mais alta e maiores níveis declarados de felicidade.
— Não há
evidência alguma de que os níveis se estabilizam a partir de algum ponto
de satisfação em qualquer nação — relatam os autores, segundo a revista
“The Week”.
A segunda tabela compara os países entre si,
revelando que as nações mais ricas relatam níveis mais altos de
felicidade. A linha sobe à medida que a riqueza aumenta, indicando que
“a relação bem-estar-renda se estende a eles também”.
As tabelas
usam uma escala logarítmica, que mostra que uma dada mudança na
porcentagem da renda produz uma alteração fixa em felicidade,
independentemente do nível original da renda. Por exemplo, a duplicação
da riqueza produz a mesma variação percentual se a renda inicial for US$
1.000 ou US$ 1 milhão.
Isso quer dizer que um aumento de US$ 5
mil no Produto Interno Bruto per capita vai gerar muito mais felicidade
para um país pobre do que para um rico. Na mesma linha, um aumento de
US$ 5 mil na renda familiar vai gerar mais felicidade para uma família
pobre do que para uma rica.
A pesquisa leva a pensar na
importância do crescimento econômico e na distribuição desse
crescimento. Reduzir à metade a renda de milionários permitiria dobrar à
de diversos lares pobres.
As descobertas vão de encontro à
amplamente divulgada teoria que o economista Richard Easterlin lançou há
40 anos, que defendia que as pessoas não se tornavam mais felizes ao
multiplicar sua riqueza. Em resposta ao estudo, Easterlin alertou que a
pesquisa olhou, na verdade, momentos instantâneos de níveis de renda, e
não como a felicidade aumentou para indivíduos à medida que sua renda
pessoal cresceu.
— Se você comparar pessoas num determinado ponto
no tempo, aquelas com nível de renda mais alto são tipicamente mais
felizes — disse o economista à “MarketWatch”. — Mas não se pode
generalizar a relação naquele determinado ponto para a relação ao longo
do tempo.
Outros especialistas também questionaram se as
descobertas mostram uma causalidade real ou uma mera correlação. Pessoas
mais felizes podem ser mais propensas a serem promovidas e receberem
aumento. Ou nações ricas podem ter a estabilidade e os recursos
necessários para satisfazer de forma mais ampla a sociedade, levando a
níveis disseminados mais altos de felicidade.
— Eu suspeito que o
que esteja acontecendo é que a renda é um marcador para algo a mais.
Pode ser que o que realmente traga felicidade seja levar à frente uma
vida plena — diz Wolfers, um dos autores.
[Globo]
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