Enquanto o Brasil se prepara para avançar mais uma posição no ranking
das economias, mas ainda enfrenta mazelas típicas de países
subdesenvolvidos, imigrantes brasileiros que vivem nos países com os
mais altos índices de desenvolvimento destacam as diferenças entre os
dois mundos.
Leonardo Dória vive há 10 anos na Noruega, país que lidera o
ranking elaborado a partir do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Calculado em
187 países, o IDH foi introduzido numa tentativa de desviar o foco do
desenvolvimento puramente econômico, medido pelo Produto Interno Bruno
(PIB), passando a explorar também outros indicadores como expectativa de
vida, média de anos de estudo, acesso à saúde e distribuição de renda.
Com nota 0,943, a Noruega fica perto da nota máxima 1, seguida pela
Austrália (0,929) e pela Holanda (0,910). Esses países fazem parte de um
grupo de 47 com desenvolvimento considerado muito alto. O Brasil está
no grupo imediatamente inferior, na 84ª posição, e com nota 0,718.
"O petróleo gera muita riqueza para a Noruega", diz Doria à BBC
Brasil, destacando que essa riqueza é distribuída de forma "justa e
igualitária".
Uma forma de medir isso e comparar com o Brasil toma por base o
coeficiente de Gini, que mede a concentração de renda em um país. A
Noruega tem um coeficiente de 25,8, que indica uma das melhores
distribuições de renda do mundo. O do Brasil, de 53,9, põe os país entre
os 10 piores do mundo no quesito, segundo a ONU.
Salários compensadores
O baiano Alessandro Mendes, também morador de Oslo, diz que ainda
está se adaptando ao país. Ele chegou à Noruega a passeio, após visitar a
irmã na Alemanha. "Eu dei sorte. Vim a convite da minha atual esposa e
acabei encontrando um trabalho", conta.
Em 2008, no auge da crise financeira, ele perdeu o emprego. "Meu
filho tinha acabado de nascer e foi um baque pra gente." Ele aproveitou
os 12 meses de licença maternidade remunerada da esposa e voltou para o
Brasil por cinco meses, para "colocar a cabeça no lugar".
Acabou retornando a Oslo e encontrando emprego como subgerente de uma rede de supermercados, mas anda decepcionado com o país.
"O custo de vida aqui é muito alto, eu tenho de pagar o equivalente a
cerca de R$ 600 por mês pela creche da minha filha", diz, ao explicar
que já pensou em fazer bicos como guia turístico para aumentar a renda
familiar.
Doria, que, além de trabalhar como geógrafo, tem um site com dicas
sobre a Noruega, concorda que o custo de vida no país seja alto. "Mas os
salários compensam e, tudo o que você paga, está relacionado à sua
renda anual", disse, citando a educação e a saúde, calculadas com base
nos rendimentos de cada trabalhador, de modo a não pesar no bolso dos
mais pobres e manter a igualdade de oportunidades.
Preço com base na renda
Na Holanda, terceira colocada no último ranking do IDH, o sistema é
parecido. Para ter acesso a médicos e hospitais públicos, o cidadão
precisa ter um plano de saúde cujo valor é calculado com base na renda.
"Eu pago 500 euros mensais para mim, para minha mulher e para
os meus três filhos", diz o músico paulista Alaor Soares, que mora na
cidade holandesa de Vleutten desde 1992. "E meu filho acabou de começar o
ano letivo e eu tive apenas que comprar um computador para ele usar
durante as aulas, o resto é gratuito", acrescentou.
Na mesma escola, os três filhos de Alaor aprendem francês e alemão.
Além disso, já falam português, holandês e inglês, que aprenderam em
casa.
"Aqui, a escola é pública e todo mundo usa, até a filha da princesa",
diz Marcia Curvo, engrossando o coro. Há 12 anos na Holanda, a goiana
fala com orgulho do país que adotou para viver.
"Eu pago imposto e tenho retorno. Amanhã, se eu ficar inválida, eu
vou ter tudo: tratamento, assistente social, moradia. Eu não vou ficar
jogada no meio da rua."
Futuros planejados
Além do alto nível das infraestruturas e dos serviços nesses países,
poder planejar o futuro é outra vantagem citada por brasileiros. "A
gente tem estabilidade, pode pensar em comprar uma casa, um carro, o
governo ajuda, se for preciso", afirma Eliane Braz, que mora em
Toulouse, no sul da França, país que ocupa a 20ª posição no ranking de
IDH.
"Saber que é possível fazer planos com segurança e que esses planos
darão certo se você fizer a sua parte é uma das maiores vantagens de se
morar na Noruega", diz Leonardo Doria, que gostaria que o Brasil tivesse
essa qualidade. Ele também adoraria que o país onde nasceu tivesse uma
cidadania mais madura.
"Eu gostaria que os brasileiros tivessem essa consciência dos
noruegueses", diz o carioca. "Aqui, as pessoas se envolvem com as
questões sociais, elas sabem que têm direitos e deveres, e cobram isso
dos políticos".
Já Alessandro Moraes adoraria que políticos brasileiros fossem como
os noruegueses, que "recebem salários discretos e sem auxílios extras."
[Ig]
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