Só uma capivara foi capaz de chamar mais a atenção da equipe
multinacional da minissérie "Vermelho Brasil", em cenas filmadas no Alto
da Boa Vista, do que o sueco Stellan Skarsgård, ator-assinatura de Lars
von Trier e coadjuvante de pipocas milionárias como "Mamma mia!" (2008)
e "Thor" (2010). Stellan foi escalado para viver o explorador francês
Nicolas Durand de Villegagnon (1510-1571). Já a capivara chegou ao set
sob cuidados para Ibama nenhum botar defeito, a fim de emprestar
realismo à locação onde foi erguida a casa do português João da Silva
(vivido pelo lisboeta Joaquim de Almeida). Contrabandista de pau-brasil e
espião da Coroa lusa, João é o vilão do projeto de R$ 20 milhões, que
segue em produção até 10 de novembro, reunindo 75 atores, 2 mil
figurantes e 141 técnicos. Sua matéria-prima é o best-seller "Rouge
Brésil", de Jean-Christophe Rufin, que vendeu 500 mil exemplares em todo
o mundo.
- Conhecia o Brasil por Carmen Miranda, Babenco, Walter Salles,
"Cidade de Deus" e futebol. Agora, estou aqui para entender sua origem,
como um estrangeiro falando de estrangeiros - diz Stellan, que gravou em
Taquari, região vizinha a Paraty, a chegada da expedição francesa à
Baía da Guanabara em 1555.
Sob a direção do canadense Sylvain Archambault, o material
filmado, falado majoritariamente em inglês, será montado até fevereiro
de 2012. Dele serão extraídos dois telefilmes de 90 minutos para o canal
France 2, um longa-metragem para o cinema nacional e uma série de cinco
capítulos de 40 minutos para a televisão brasileira. Foram combinados
recursos (financeiros e humanos) de produtoras de quatro países - Pampa
Films, da França; Conspiração, do Brasil; CD Films, do Canadá; e
Stopline, de Portugal - em associação com a France Télévisions,
GloboFilmes e a lusa RTP. Aqui, a distribuição em circuito exibidor será
da RioFilme. Por contrato, a Rede Globo tem a primeira opção de
transmissão na TV aberta.
- Esta produção é um épico sobre um choque entre culturas. Ela
pode nos mostrar a dificuldade que o mundo contemporâneo tem em olhar
para trás e aprender com os massacres que marcaram sua História - diz
Archambault, realizador de "Piché: entre ciel et terre" (2010), sucesso
de bilheteria no Canadá. - Sou fã de "Cidade de Deus", que também
mostrou quantos mortos fizeram a História daquela localidade. Quero
retratar a origem do Brasil com uma narrativa contemporânea, sem amarras
à linguagem clássica.
Fotografado por Christophe Graillot, cria da TV francesa,
"Vermelho Brasil" vai totalizar oito semanas de filmagens, com locações
ainda na praia de Trindade, nas imediações de Paraty), em Xerém (onde
foi reproduzida uma aldeia tupinambá) e em Barra de Guaratiba, cenário
onde fica a muralha do Forte Coligny, que Villegagnon tentou erguer na
Baía de Guanabara.
- Faz muito tempo que eu não venho filmar no Brasil. Neste
momento em que Portugal está em crise e nosso cinema aposta em muitos
filmes de pouco dinheiro, eu encontro o cinema brasileiro com projeção
internacional - elogia Joaquim de Almeida, o Sherlock Holmes de "O Xangô
de Baker Street" (2001).
Na porção brasileira do elenco de "Vermelho Brasil", entram
Giselle Motta (revelação de "O palhaço", de Selton Mello, que estreia
sexta-feira) e Pietro Mario, o Capitão Furacão, em dois papéis: o
marinheiro apelidado de Old Sea Wolf e o francês Pay-lo, que vive entre
os índios.
- Como o Rio se tornou mundialmente mais conhecido por conta de
sua escolha para sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, há uma demanda
lá fora por conhecer sua História- diz Pietro.
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